sábado, 30 de novembro de 2013

[TOONS] KENNY WASHINGTON

O Toons de hoje será um pouco diferente. A gente vai falar de algo mais abrangente do que simplesmente a vida de um atleta. Embora o dia da Consciência Negra já tenha passado, hoje nos vamos falar da quebra da barreira racial na NFL.



A história de quatro atletas profissionais de futebol americano em 1946 foi extremamente importante na garantia de direitos iguais e diversidade na liga que, cerca de 60 anos mais tarde, se tornaria a mais poderosa organização esportiva do país, uma das maiores do mundo. Vamos abordar a história pouco divulgada de Kenny Washington, Bill Willis, Marion Motley e Woody Strode. Atletas icônicos que, sem dúvida, contribuíram para o sucesso estrondoso que é a NFL hoje, e tiveram um grande impacto para a transformação da sociedade americana além dos gramados.
Registros de jogadores negros de futebol americano vão longe, até os primeiros anos do século passado. No entanto, todos os profissionais jogavam na época em que os times ainda eram clubes, além de o esporte já ser praticado em universidades. Apenas em 1946, já no formato que culminaria na NFL moderna, que Kenny Washington veio a ser o primeiro afro-americano a assinar contrato com uma equipe.
Washington, proveniente da UCLA, passou três anos no Los Angeles Rams. Apesar da curta carreira, teve bastante impacto e de importância foi reconhecida pelo College Football Hall of Fame em 1956. Também formado pela UCLA, em seguida veio Woody Strode, outro jogador afro-americano contratado pelo LA Rams. Sua carreira foi ainda mais curta, apenas uma temporada, mas o suficiente para ajudar a pavimentar o caminho para outros atletas que o seguiram. Strode também jogou no Canadá, e depois se dedicou à carreira de ator na promissora Hollywood.
Poucos meses mais tarde, o Cleveland Browns seguiu a tendência de “integração” dos Rams e contratou Bill Willis e Marion Motley. A dupla foi diretamente responsável pela conquista de cinco títulos consecutivos pela equipe, passando de discriminados a ídolos. Motley no ataque, como um enorme fullback – cerca de 108 kg, o que era bastante para a posição na época –, era um pesadelo para os adversários. Algo que fazia dele um dos principais atletas da equipe, já que o jogo terrestre predominava.
Willis atuava na defesa, na extinta posição de “middle guard”. Com muita agilidade e velocidade, era versátil o suficiente para se posicionar ora na linha de scrimmage, ora um pouco mais recuado, para ajudar na cobertura. Por isso, é considerado o pai do linebacker moderno. Foi sua habilidade física que expôs a possibilidade de usar atletas tanto para defender pelo ar como por terra. Portanto, sem ele não existiriam grandes lendas de hoje, que fizeram seus nomes nesta tão importante posição, considerada o cérebro da defesa.
Juntos, os quatro trouxeram um impacto imediato para a NFL, e logo os outros times – antes relutantes à participação dos negros, como em quase todos os aspectos da segregação racial americana – perceberam que estavam deixando passar enormes talentos. Ainda assim, o preconceito e a discriminação não acabaram aí. Foram décadas de luta pela igualdade no esporte, que hoje tem maioria de afro-americanos nos elencos das equipes. Mas o futebol americano, assim como outras modalidades esportivas, tem uma importante função de difusão de valores na sociedade, tanto é que a prática é usada como uma ferramenta de formação nas escolas. Infelizmente ainda há casos de racismo, inclusive dentro do esporte. O mais recente foi envolvendo Richie Incognito e Jonathan Martin, ambos do Miami Dolphins, em que Incognito usou termos racistas e pejorativos ao se referir a Martin.
Ainda há muito para ser feito pela igualdade, mas não seria exagero dizer que a National Football League é, como um microcosmo, um exemplo a ser seguido, no qual prevalece o talento, a aptidão física e o conhecimento técnico. Afinal, não importa a cor, credo, nacionalidade ou qualquer outra bagagem: sob olhar dos técnicos, entra em campo aquele que dá ao time a melhor oportunidade de vencer. Isso, graças a Washington, Willis, Motley, Strode e muitos outros, que precisaram engolir desaforos e encarar a ignorância em nome da paixão pelo esporte.

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