O Toons de hoje será um pouco diferente. A gente vai falar de algo mais
abrangente do que simplesmente a vida de um atleta. Embora o dia da Consciência
Negra já tenha passado, hoje nos vamos falar da quebra da barreira racial na
NFL.
A história de quatro atletas profissionais de futebol americano em 1946 foi
extremamente importante na garantia de direitos iguais e diversidade na liga
que, cerca de 60 anos mais tarde, se tornaria a mais poderosa organização esportiva
do país, uma das maiores do mundo. Vamos abordar a história pouco divulgada de
Kenny Washington, Bill Willis, Marion Motley e Woody Strode. Atletas icônicos
que, sem dúvida, contribuíram para o sucesso estrondoso que é a NFL hoje, e
tiveram um grande impacto para a transformação da sociedade americana além dos
gramados.
Registros de jogadores negros de futebol americano vão longe, até os
primeiros anos do século passado. No entanto, todos os profissionais jogavam na
época em que os times ainda eram clubes, além de o esporte já ser praticado em
universidades. Apenas em 1946, já no formato que culminaria na NFL moderna, que
Kenny Washington veio a ser o primeiro afro-americano a assinar contrato com
uma equipe.
Washington, proveniente da UCLA, passou três anos no Los Angeles Rams.
Apesar da curta carreira, teve bastante impacto e de importância foi
reconhecida pelo College Football Hall of Fame em 1956. Também formado
pela UCLA, em seguida veio Woody Strode, outro jogador afro-americano
contratado pelo LA Rams. Sua carreira foi ainda mais curta, apenas uma temporada,
mas o suficiente para ajudar a pavimentar o caminho para outros atletas que o
seguiram. Strode também jogou no Canadá, e depois se dedicou à carreira de ator
na promissora Hollywood.
Poucos meses mais tarde, o Cleveland Browns seguiu a tendência de “integração”
dos Rams e contratou Bill Willis e Marion Motley. A dupla foi diretamente
responsável pela conquista de cinco títulos consecutivos pela equipe, passando
de discriminados a ídolos. Motley no ataque, como um enorme fullback – cerca de
108 kg, o que era bastante para a posição na época –, era um pesadelo para os
adversários. Algo que fazia dele um dos principais atletas da equipe, já que o
jogo terrestre predominava.
Willis atuava na defesa, na extinta posição de “middle guard”. Com muita
agilidade e velocidade, era versátil o suficiente para se posicionar ora na
linha de scrimmage, ora um pouco mais recuado, para ajudar na cobertura. Por
isso, é considerado o pai do linebacker moderno. Foi sua habilidade física
que expôs a possibilidade de usar atletas tanto para defender pelo ar como por
terra. Portanto, sem ele não existiriam grandes lendas de hoje, que fizeram
seus nomes nesta tão importante posição, considerada o cérebro da defesa.
Juntos, os quatro trouxeram um impacto imediato para a NFL, e logo os
outros times – antes relutantes à participação dos negros, como em quase todos
os aspectos da segregação racial americana – perceberam que estavam deixando
passar enormes talentos. Ainda assim, o preconceito e a discriminação não
acabaram aí. Foram décadas de luta pela igualdade no esporte, que hoje tem
maioria de afro-americanos nos elencos das equipes. Mas o futebol americano,
assim como outras modalidades esportivas, tem uma importante função de difusão
de valores na sociedade, tanto é que a prática é usada como uma ferramenta de
formação nas escolas. Infelizmente ainda há casos de racismo, inclusive dentro
do esporte. O mais recente foi envolvendo Richie Incognito e Jonathan Martin,
ambos do Miami Dolphins, em que Incognito usou termos racistas e pejorativos ao
se referir a Martin.
Ainda há muito para ser feito pela
igualdade, mas não seria exagero dizer que a National Football League é, como
um microcosmo, um exemplo a ser seguido, no qual prevalece o talento, a aptidão
física e o conhecimento técnico. Afinal, não importa a cor, credo,
nacionalidade ou qualquer outra bagagem: sob olhar dos técnicos, entra em campo
aquele que dá ao time a melhor oportunidade de vencer. Isso, graças a
Washington, Willis, Motley, Strode e muitos outros, que precisaram engolir
desaforos e encarar a ignorância em nome da paixão pelo esporte.
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